15 setembro 2009

Quem responde ao temporal?

E quando a ventania chegou - sem previsões em jornais sobre possíveis temporais - desarmou tudo o que podia. Sem cor e tampouco dó destruiu sonhos e canções. Muito havia se perdido de fato.

Maria, vítima da ventania, já não podia se lembrar dos objetos sem valor que só ocupavam espaço, nem das plantas de plástico ou dos velhos retratos mofados que de vez em quando a lembrava de como era anos atrás. Quem sabe cada detalhe desse rotineiramente presente em sua vida não fora significativo o bastante para que ela sentisse falta.

Em sua face uma expressão notavelmente lânguida como de alguém que apesar do estado de choque estava bem consciente sobre o que se passava ao redor. Porém, palavra nenhuma dizia. Gesto? Também não. Quem sabe o que é perder tudo quando tudo não se resume a tudo?

Maria dividida entre pensamentos de ontem e hoje não sabia a quem culpar. O tudo ou nada perdido, a ventania, certamente não poderia custear. Responder enfurecidamente ou derramando lágrimas desesperada por uma solução não iria trazer nada do que se foi com o vento embora. E isso ela sabia muito bem.

Não, ser vítima de um acontecimento desse, não é privilégio de uma única pessoa. A rua estava cheia de olhares implorando por consolo. Mas por que Maria se João também estava angustiado com sua perda, e mais ainda, enfiado entre destroços, cacos de vidro e poeira? Por que Maria se Antônio que na aflição por um abrigo para se proteger num descuido foi atingido por um pedaço de madeira e perdeu a visão?

Entre todas as pessoas que atingidas por esse mal natural, Maria era a única que não estava explodindo em sentimentos. Há de se acreditar que quem chora ao assistir comédias românticas desabaria assim como as casas "desmontadas", mas em desespero. No entanto, imprevistas são as reações humanas.

Quem há de compreender o que as capas com contornos delicados, suaves tonalidades, impróprios brilhos vindo de purpurina e movimentos mecânicos podem dizer quando são intocáveis as palavras sem tinta?

Um comentário:

  1. a sua sensibilidade com as palavras é fantásticamente notável.abraços

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