30 outubro 2010

Passageiro.

Anoiteceu, a forte e amarelada luz, acima da minha cabeça, incidia sobre meu rosto pálido. Senti o assento balançar tanto que o confundi com minhas pernas trêmulas. Fechei o livro que estava lendo pondo um marcador de páginas entre as folhas que meus dedos discriminavam. Os outros passageiros não pareciam preocupados e a aeromoça passava por mim sem expressão definida no rosto. Inevitavelmente, comecei a imaginar as piores coisas que uma turbulência poderia causar enquanto descascava o pacote de pastilhas azedas, sabor laranja, uma a uma, até o céu da boca, arranhado, arder. A janela retângula ovalada, ao meu lado esquerdo, exibia um céu azul marinho e um ponto luminoso branco na extremidade da asa. Por algum tempo, fiquei observando a asa da aeronave oscilando verticalmente. Também, o profundo e silencioso corredor por onde o carrinho de biscoito, bombons de caramelo e bebidas passava. Não havia ninguém no assento ao lado, nem ao lado do vazio. Éramos, apenas, eu e a música, que penetrava em meus ouvidos por meio do aparelho de emepetrês. Melhor companhia não teria.

Entediado, acompanhei o movimento dos demais passageiros. Um senhor, que não pude identificar a idade, localizado cinco cadeiras à frente, cutucava os botões acima de sua cabeça querendo acender a luz. Pressionava o dedo indicador no local errado. Deve ter desistido, depois de algum tempo, pois eu já não podia enxergar seus braços esticados acima da cabeça e a lâmpada permanecia desligada.

Quando o avião aterrissou, rostos estranhos começam a surgir no corredor, orientados pela numeração lateral. Desprendi minha atenção a estas novas pessoas que embarcavam. Até que ouvi uma voz seca, de homem; falava uma língua diferente. Pela cena que capturei, parecia requisitar seu assento próximo à janela do outro lado do corredor onde eu estava sentado. Um homem havia ocupado lugar por engano, imaginei. Esse estrangeiro fazia sons estranhos com os lábios. Resmungava para si e assobiava. Apesar de não compreender sequer uma palavra que ele dizia, tive a impressão de que falava um espanhol mais enrolado do que o comum. Grunhia sei-lá-o-porquê. Aparentemente, aquele homem devia ter entre cinquenta e sessenta anos, já um senhor. Ele era moreno claro, de altura média, tinha uma barriguinha saliente, os cabelos curtos e castanho-grisalhos, usava um brinco prata de argola, não muito grande, na orelha esquerda, óculos de grau com armação de cor marrom. Suas vestimentas eram simples: bermuda bege, camiseta de manga sem estampa de cor verde mar escuro e algum tênis discreto. Cruzava as pernas enquanto folheava a revista aérea no compartimento traseiro do assento a sua frente. Silenciou apenas quando já estava dormindo. A cabeça caída sobre o ombro esquerdo, a boca levemente aberta deixando uma breve amostra dos dentes frontais.

Aguardei o comissário de bordo, com uma voz fanha, avisar, em duas línguas, que podíamos retirar os cintos e levar as bagagens de mão para a seção de desembarque. A aeromoça de cabelos louros, longos e soltos, uniformizada e com uma faixa preta para prender os fios para trás, acordou o senhor estrangeiro. Havia um pacote lacrado de biscoito americano deixado para ele em cima da mesinha que se desprende da poltrona da frente. Então, ele retornou a fazer barulhos e gemidos com a boca que eu não consegui compreender. Levantou-se e retirou uma mala vermelha do bagageiro de cima. Apesar do cochilo, ele parecia muito agoniado para desembarcar. Se pudesse, creio que teria empurrado todos os passageiros que se encontravam a frente.

Coerência, povo brasileiro.

Estamos caminhando para o término do período eleitoral, então, resolvi tocar novamente neste tema. Afinal, em dois dias será eleito o próximo presidente da república federativa do Brasil. Um cargo de tamanha responsabilidade não pode ser entregue de mão beijada a qualquer um. Mas, imagino que a população brasileira já tenha o seu número (ou ausência dele) decorado para este domingo.

As eleições podem ser até mais imprevistas do que final de copa do mundo. No primeiro turno, por exemplo, indicaram vitória imediata da candidata do PT. E cá estamos nós no segundo turno. O tal “efeito Marina Silva” provocou um sinal de alerta no Brasil. Quase 20% do eleitorado brasileiro não optou por nenhuma das duas fortes correntes, representadas por Dilma Rousseff e José Serra.

Tudo bem. Fomos ao segundo turno com a esperança de ver um debate mais engajado de propostas concretas e o que ganhamos? Um mês de desprezível. Reconheço a importância do segundo turno para exibir a necessidade de uma terceira via na disputa eleitoral, porém, objetivamente, o segundo turno nada acrescentou além de farpas e declarações desesperadas pela atenção da mídia.

Assistindo ao último debate, promovido ontem pela rede globo, verifiquei que a situação se amenizou. Ou seja, o tom de voz foi outro. Espero que seja-lá-quem-for-eleito faça o melhor e o MELHOR para a nossa nação. Vamos lutar para que políticos ditos “ficha suja” continuem sendo impedidos de assumir cargos; que os casos de corrupção sejam amplamente divulgados, independente do partido envolvido, e, principalmente, apurados mostrando a população que este país vai para frente e que para isto é preciso da cobrança de todos.

Nota adicional: Seja ético ou não comentar, mas sinto a necessidade de explicitar a minha felicidade com a situação do candidato ao senado Jader Barbalho. Quarta-feira (27) foi o julgamento para avaliar o caso "ficha limpa" e apesar dos mais de num-sei-quantos-votos (nunca presto atenção quando passo pelo outdoor) ele foi "condenado" (soa forte, não?). Minha visão sobre um político desse naipe é que de alguma forma eles conseguem fazer com que a população se apaixone por eles. Quando menciono a palavra paixão é exatamente o que descreve o dicionário Aurélio
Sentimento ou emoção levados a um alto grau de intensidade, sobrepondo-se à lucidez e à razão.
Sim. Àquela mesma que impulsiona um relacionamento entre dois indivíduos. A paixão leva um tempo para "acabar" e é quando as verdades vêem a tona. Então, eu espero que este exemplo sirva para que no futuro candidatos como este cidadão não sejam mais cogitados como preferidos.

29 outubro 2010

Peça Máquina 2.0

Está de volta em cartaz a peça "Máquina 2.0: A história de uma paixão sem limites". Vocês podem conferir o material de divulgação abaixo, porém, notem que houve uma alteração nas datas do evento e no local.

Teatro Claudio Barradas de 04 a 07/11 às 19:32. R$ 9,99 inteira e R$ 4,99 meia

Assisti quando exibido semana passada e pretendo assistir de novo, vale a pena.

27 outubro 2010

Alô, Brasil?

Vivemos no Brasil um período muito conturbado.

Eleições presidenciais!

Sim, caro leitor. Tenho acompanhado manchetes, debates, comentários e muita sujeira. Quando menciono a palavra sujeira me refiro tanto àquela crosta de panfletos de candidatos espalhados pelas ruas, calçadas, boeiros etc. quanto as ofensas, difamações, boatos que vem sendo divulgados pela imprensa.

Sinceramente, nunca pensei que fôssemos chegar a tal ponto que tópicos polêmicos, como a religião, cuja a discussão não providencia frutos positivos para o engrandecimento da nação, fosse pauta mais importante do que infra-estrutura, educação, saúde, geração de empregos, entre outros. Estamos falando sobre gestão; governo. Sinto muito pelas pessoas que se deixam levar por questões como estas, e muito mais pelos políticos de meia-boca que utilizam destes temas para chegar a esta população.

Estou claramente decepcionada com os rumos podres para onde as discussões tem se direcionado. Ainda bem que o dia trinta e um está se aproximando, pois ninguém aguenta maismentiras deslavadas.

Quem sou?

Tem dias que eu queria nunca ter parado de escrever. Quando eu vejo meu blog inativo for tanto tempo eu penso o quão distante eu estive de m...