30 março 2010

28 março 2010

Jeremias

- Jeremias, jeremias! Pra cá, menino... – gritou uma senhora. Ela mordeu os lábios impaciente, com as mãos nos quadris, olhando de um lado para outro.

Dona Francisca era uma boa senhora. Há algumas semanas, havia se mudado para Rua Arejada, casa de número cento e dois. Vivia apenas na companhia de seu gato Jeremias. Era frequente vê-la caminhando durante as manhãs à procura dele. Dizem as más línguas que ela enxergava no gato seu falecido marido, também, Jeremias. Embora dona Francisca não tivesse feito muitos amigos nas redondezas, resolveu convidar todos os vizinhos para comemorar o aniversário do seu gato. Como se não fosse suficiente, encomendou um bolo de ração para Jeremias e acendeu sete velas. Cochichos, próximos aos portões da casa de número cento e dois, julgavam que esta não era somente uma atitude estranha. Outros termos conferiam uma anormalidade àquela casa. A ausência de visitas, possíveis filhos ou netos, igualmente, fortalecia os boatos.
Jeremias não era feio. Na realidade, tinha uma aparência engraçada, pomposa, um verdadeiro Persa de pêlo curto. Os excessivos cuidados, dengos, escovações diárias, tornaram o gato um tanto rechonchudo. O pobre mal conseguia correr por muito tempo, ou saltar grandes distâncias. Se existisse uma categoria para enquadrar os gatos obesos, certamente, ele seria. Entretanto, isso não incomodava dona Francisca. Para ela, quanto mais “gordinho” ele estivesse, mais feliz aparentava.

- Que diabos! Aquela senhora já está gritando mais uma vez... – resmungou um homem levantando-se da cama com dificuldade. - E ainda são sete da manhã!

- Já falamos sobre isso. Não precisa perder tempo indo reclamar com ela. – respondeu uma mulher próxima ao homem. Ela permanecia deitada com o antebraço direito sobre os olhos, impedindo que a luz do sol, já aparente, os atingisse.

- Não compreendo como você consegue ser tão paciente. Essa mulher louca e seu gato são quase um despertador adiantado. – disse o homem ao se levantar para abrir as cortinas da varanda. Do lado das casas ímpares da Rua Arejada, ele podia enxergar dona Francisca agoniada. – Qualquer dia desses, esse gato ainda vai fazê-la enfartar!

- Bata na sua boca. Deixe-os em paz e volte para cama. – falou a mulher em tom sério, revirando o corpo de bruços, com a cabeça na direção oposta a iluminação vinda da varanda aberta.

Igor e Eleonora Rodrigues, os vizinhos frontais da dona Francisca, residiam na casa de número cento e três. Foram os primeiros a conhecê-la, completando recentemente cerca de cinco semanas. Eleonora, sempre muito simpática, quis desejar boas vindas. Sua melhor amiga, Patrícia Alencar, trabalhava como corretora de imóveis. Desse modo, era de fundamental importância que os novos moradores se sentissem bem acolhidos pela vizinhança.

19 março 2010

Hiatus.

Vou tirar "férias", ou dar um tempo (como queiram), de algumas coisas...

16 março 2010

Adeus

- Existe uma linha delgada que separa os minutos antecedentes a parada respiratória e o apagar das luzes.
- Não...

Alberto desligou o telefone. Entrou rapidamente no carro, como quem busca refúgio. Com os olhos fixos no horizonte, sua noção de tempo foi congelada, e por alguns minutos permaneceu estático. Deparar-se com a morte de um ente querido é engolir as memórias reviradas. Não há retorno para sinais que cessaram.

Sem ruídos, ou movimento, a rua mal-iluminada pela noite escura era um mero cenário, dentro de um contexto desastroso. Ninguém, absolutamente ninguém, poderia ajudá-lo. Evidentemente, ele precisaria de um ombro amigo por alguns dias, meses ou, talvez, anos. Mas, mesmo que um amontoado de pessoas o visitasse, constantemente, seria praticamente impossível desligá-lo de si. Quando fossem embora, as noites seriam sempre as mesmas, a mensagem de terça-feira, os resmungos de sábado.

15 março 2010

Regra 3

Regra Três
Composição: Vinicius de Moraes / Toquinho

Tantas você fez que ela cansou
Porque você, rapaz
Abusou da regra três
Onde menos vale mais

Da primeira vez ela chorou
Mas resolveu ficar
É que os momentos felizes
Tinham deixado raízes no seu penar
Depois perdeu a esperança
Porque o perdão também cansa de perdoar


Tem sempre o dia em que a casa cai
Pois vai curtir seu deserto, vai.
Mas deixe a lâmpada acesa
Se algum dia a tristeza quiser entrar
E uma bebida por perto
Porque você pode estar certo que vai chorar


Regra três é uma das minhas músicas preferidas. Acho fantástica a simplicidade dela. Dizendo pouco, ela diz tudo.

13 março 2010

Tolos e boçais.

Somente quando as luzes se apagam é que o espetáculo começa. As cortinas se abrem lentamente, dando a oportunidade aos espectadores aplaudirem de maneira eufórica. A luz expõe de centímetros em centímetros rostos conhecidos, sérios, sóbrios, boçais. Aquelas pessoas, gente importante, exibem-se ao público como manequins em vitrines, criando uma atmosfera que os impede de manter qualquer contato. Os desconhecidos em montes distribuem-se quase que uniformemente pela platéia. São os reais financiadores dos boçais ingratos.

O espetáculo começa pedindo a todos silêncio. A concentração é fundamental para uma boa encenação. Os boçais se posicionam como bonecos. São marionetes dos escritores, ou melhor, dos diretores. Seja de pano, de madeira, de metal ou algum outro material, ainda são bonecos. Não possuem emoção própria, apenas encarnam outras pessoas. Pessoas que só existem no papel formato a4.

Qualquer movimento alheio a cena, que está sendo descrita, é recortada do ambiente por algum homem alto trajando um terno preto como uniforme. Ninguém pode impedir os boçais de agirem como bonecos, tampouco de os espectadores como tolos. Os tolos tornam-se patrocinadores com mais facilidade. Não requisitam documentos, assinam o contrato de estupidez sem questionar.

Mas, uma coisa é certa, o espetáculo não pode parar.

12 março 2010

Lançamento

Hoje foi o primeiro lançamento do meu primeiro livro. Não tenho palavras para descrever o quanto significou, mas tenho certeza que cada um dos presentes teve sua parcela de contribuição para minha alegria. Momentos inesperados sempre são mais marcantes... Ou pelo menos tornam-se motivo de lembrança. Espero que este seja apenas o primeiro de muitos que estão por vir. É isso aí... Março. Por enquanto. ;)

07 março 2010

Somos?

Somos fortes. Omitimos todas as lágrimas. Somos muralhas. Não deixamos nem uma gota passar. Somos espelho. A indiferença é o reflexo de duas partes diferentes. Mas, no final de tudo, não somos nada. Somos força de um sonho. Sobrepomos dificuldades cotidianas. Somos brilho ofuscado. A visita sequer menciona seu nome. Somos a tristeza em silêncio. No final de tudo, realmente, não somos nada.

Quem sou?

Tem dias que eu queria nunca ter parado de escrever. Quando eu vejo meu blog inativo for tanto tempo eu penso o quão distante eu estive de m...