Chego aqui com um turbilhão de pensamentos. Alguns deles tão ridículos para serem mencionados. Outros se encadeiam em uma longa história. Falta-me ânimo para resumi-la. Todo dia é a mesma coisa. Sento-me de frente para o notebook com o anseio de contar algo, mas nada sai. É uma frustrante luta interna sobre o que eu poderia ou gostaria de dizer. Quando desisto logo procuro algo para substituir o meu anseio de escrever. Acabo esquecendo por minutos a minha real vontade. Não pareço ter assunto. Não pareço. As palavras me fogem porque o tema não há. Ou não penso nele o suficiente para as palavras saírem. É provável que sim. Assim que começo outro dia, a vontade retorna. Aos poucos ela se faz presente e pressiona meus pensamentos por algo útil. Será que consigo hoje? A vontade vem e vai como um balanço em movimento que não para no lugar. Estou certa de que preciso externalizar algo. Mas o quê? Minh'alma anseia por deixar meu corpo em palavras. Mas são tão ridículos tais pensamentos que acabo deixando-os pra trás novamente.
Mostrando postagens com marcador Textos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Textos. Mostrar todas as postagens
07 agosto 2014
29 janeiro 2014
Um ano
Ela acordou com uma sensação de responsabilidade. Percebeu que tinha completado um ano de namoro. Um ano que pareceu ter passado rápido aos seus olhos, mas que lhe trouxe demasiadas mudanças positivas. Um ano numa relação estável, e muito importante citar: saudável (como seu amigo já havia mencionado). Olhava para um ano atrás lembrando do desespero que sentia quando finalmente decidiu virar a página. Mas, mesmo com uma aperto no coração, ela virou. Muitas vezes sentiu-se perdida em pensamentos, com muitos medos, medos de muitos planos. Mas ele estava lá de mãos postas, e mesmo sem querer estar, ficou. Ficou um mês, dois meses, três... quatro, cinco, seis... e continuou ficando. Oferecendo ombros e ouvidos, ele quis ficar. Sabia no fundo que ela precisava de ajuda, e de coração quis ajudar. Os primeiros seis, sete meses foram um misto de querer e não querer estar. Embora esta dualidade existisse os momentos que propiciaram uma separação foram anulados, ora por um, ora por outro. O motivo não fazia, como não fez diferença. O que significou foi o continuar. Assim, continuaram.
Ela acordou, ele estava lá, e sempre esteve, mesmo quando ela não queria que estivesse. Ele estava lá. Estava lá quando ela caía em choro denso, quando ela não sabia o que fazer. E o mais importante, nunca negou sua presença, nunca deixou de responder aos chamados dela e nunca a quis fazer chorar. E se fosse possível evitar, ele o teria feito. Ela sabia disso. E mesmo com a cabeça afetada pela carga emocional que trazia consigo do passado, ela sabia que ele gostava dela genuinamente. Doía pensar que poderia machucá-lo, pois quem já amou sabe o quanto doí o sofrimento.
O relacionamento deles era tão improvável que quando começaram a namorar causaram grande espanto a todos. Surpreenderam aos outros e a si mesmos. Os dois eram tão parecidos, e ao mesmo tempo tão diferentes. Tinham gostos semelhantes por filmes, séries e alguns livros. Tiveram a oportunidade de descobrir em um ano o que cada um gostava. E foram apreciando a presença um do outro.
Arrisco-me a dizer que ele possa tê-la ajudado a encontrar em si um sentido para sua própria existência. Mas somente ela e o tempo poderiam confirmar.
15 janeiro 2014
O que há?
Chega um dia em que nossos sentidos se desligam e começamos a viver por inércia. Um dia em que não sabemos definir o que há de errado ou que não tenhamos coragem de enfrentar a realidade. Tudo, ao mesmo tempo, parece tão confortável e sem sentido. Uma sensação boa invade, anima, faz sorrir. Outra nos suga a empolgação, queima a pele e perfura o coração. Nos contentamos em viver de máscaras, passeando pelo tempo em busca de nós mesmo, e quando cansamos simplesmente deixamos "pra lá". O que há de tão errado nas belas flores de pétalas tão vivas e coloridas que não tem cheiro algum? O que há de errado no mar que se desmancha na areia da praia sem fazer som algum? O que há de errado no chocolate que gruda no céu da boca sem trazer o doce? O que há? Perdemos muito na vida. Perdemos principalmente a felicidade de nós mesmos. Saímos em busca de respostas a perguntas que não queremos nos fazer. É difícil conceber verdades. Ainda mais quando estas verdades nos fazem perder. Mas sem concebê-las acabamos nos perdendo de nós mesmos.
21 agosto 2012
Manifestação
Hoje o dia foi um tanto quanto agitado. Primeiramente, consegui levantar cedo! Ainda que o céu estivesse escuro. Sim, é uma grande vitória. Pelo menos para mim.
Então, após minha corrida matinal, fui diretamente para universidade. Este semestre colocaram todas as disciplinas pela manhã. Como eu já esperava, um engarrafamento logo no começo do caminho. Achei que fosse devido ao número de veículos. Mas, depois reparei que algumas pessoas saíam de seus carros para ver o que tinha acontecido. Minha segunda hipótese: um acidente. Pronto, ficaríamos parados até chegar a perícia. Sem contar que tinha um caminhão pesado atravessado na pista. Ou seja, ninguém passava.
Mas se tivesse sido uma batida, comum dos engarrafamentos, eu não estaria gastando meu tempo (ou estaria?) comentando aqui no blog. Quando alguns carros abriram mais espaço e tentaram voltar pela contra-mão, eu percebi que na realidade haviam fechado a rua em protesto. Alguns moradores da região estavam de mãos dadas fechando o caminho. Também tinham espalhado galhos de árvores pelo chão e trapos para bloquear a passagem. Aí um dos manifestantes segurava um cartaz que solicitava sinalização na região. Pelo visto, um acidente com uma senhora de idade tinha acontecido recentemente devido a ausência de faixa de pedestres ou sinal.
Fiquei presa nessa confusão por mais de uma hora. O sol começava a esquentar. Nada de CTBEL no local. A polícia só apareceu para assistir. Providências? Nenhuma. Daí os meios de comunicação surgiram. Tudo que o povo queria! O silêncio do protesto que até então só pôde ser entendido por uma ou duas cartolinas foi verbalizado. Claro! Se é para aparecer na TV, né? Vamos aparecer! Uma senhora, a mais engajada talvez, começou a puxar um coro dos outros manifestantes que pareciam até ter caído de pára-quedas na manifestação. Aí, não tão expressivo, o povo começou a falar.
Pensei que eu fosse me estressar mais do que me estressei. Estava atrasada para meu primeiro dia de aula. Tudo bem. Não podia fazer muita coisa. Não ia sair atropelando o povo. Fiquei aguardando... Uma hora eles teriam que sair da frente. Foi somente após a aparição da mídia e do teatro feito em frente as câmeras que eles liberaram a passagem.
Felizmente, consegui chegar na universidade antes de começar a aula. Não peguei nenhum engarrafamento após essa confusão. Também, seria demais azar.
12 maio 2012
De repente você cede, perde-se e chora.
"Difícil" é a palavra que mais cabe neste momento. Difícil é acreditar que todos os momentos foram ilusórios. Difícil é se entregar de face lavada e peito aberto enquanto o outro nem coragem tem de lhe poupar as lágrimas. Difícil é ser sincero. Sincero de verdade e não uma mera jogada de marketing barato que visa sedução. Difícil é se dispor a conhecer novas pessoas, quando quase todos os dias quem te aparece em mente não se importa. Difícil é mandar tudo isso pros infernos.
28 março 2010
Jeremias
- Jeremias, jeremias! Pra cá, menino... – gritou uma senhora. Ela mordeu os lábios impaciente, com as mãos nos quadris, olhando de um lado para outro.
Dona Francisca era uma boa senhora. Há algumas semanas, havia se mudado para Rua Arejada, casa de número cento e dois. Vivia apenas na companhia de seu gato Jeremias. Era frequente vê-la caminhando durante as manhãs à procura dele. Dizem as más línguas que ela enxergava no gato seu falecido marido, também, Jeremias. Embora dona Francisca não tivesse feito muitos amigos nas redondezas, resolveu convidar todos os vizinhos para comemorar o aniversário do seu gato. Como se não fosse suficiente, encomendou um bolo de ração para Jeremias e acendeu sete velas. Cochichos, próximos aos portões da casa de número cento e dois, julgavam que esta não era somente uma atitude estranha. Outros termos conferiam uma anormalidade àquela casa. A ausência de visitas, possíveis filhos ou netos, igualmente, fortalecia os boatos.
Jeremias não era feio. Na realidade, tinha uma aparência engraçada, pomposa, um verdadeiro Persa de pêlo curto. Os excessivos cuidados, dengos, escovações diárias, tornaram o gato um tanto rechonchudo. O pobre mal conseguia correr por muito tempo, ou saltar grandes distâncias. Se existisse uma categoria para enquadrar os gatos obesos, certamente, ele seria. Entretanto, isso não incomodava dona Francisca. Para ela, quanto mais “gordinho” ele estivesse, mais feliz aparentava.
- Que diabos! Aquela senhora já está gritando mais uma vez... – resmungou um homem levantando-se da cama com dificuldade. - E ainda são sete da manhã!
- Já falamos sobre isso. Não precisa perder tempo indo reclamar com ela. – respondeu uma mulher próxima ao homem. Ela permanecia deitada com o antebraço direito sobre os olhos, impedindo que a luz do sol, já aparente, os atingisse.
- Não compreendo como você consegue ser tão paciente. Essa mulher louca e seu gato são quase um despertador adiantado. – disse o homem ao se levantar para abrir as cortinas da varanda. Do lado das casas ímpares da Rua Arejada, ele podia enxergar dona Francisca agoniada. – Qualquer dia desses, esse gato ainda vai fazê-la enfartar!
- Bata na sua boca. Deixe-os em paz e volte para cama. – falou a mulher em tom sério, revirando o corpo de bruços, com a cabeça na direção oposta a iluminação vinda da varanda aberta.
Igor e Eleonora Rodrigues, os vizinhos frontais da dona Francisca, residiam na casa de número cento e três. Foram os primeiros a conhecê-la, completando recentemente cerca de cinco semanas. Eleonora, sempre muito simpática, quis desejar boas vindas. Sua melhor amiga, Patrícia Alencar, trabalhava como corretora de imóveis. Desse modo, era de fundamental importância que os novos moradores se sentissem bem acolhidos pela vizinhança.
Dona Francisca era uma boa senhora. Há algumas semanas, havia se mudado para Rua Arejada, casa de número cento e dois. Vivia apenas na companhia de seu gato Jeremias. Era frequente vê-la caminhando durante as manhãs à procura dele. Dizem as más línguas que ela enxergava no gato seu falecido marido, também, Jeremias. Embora dona Francisca não tivesse feito muitos amigos nas redondezas, resolveu convidar todos os vizinhos para comemorar o aniversário do seu gato. Como se não fosse suficiente, encomendou um bolo de ração para Jeremias e acendeu sete velas. Cochichos, próximos aos portões da casa de número cento e dois, julgavam que esta não era somente uma atitude estranha. Outros termos conferiam uma anormalidade àquela casa. A ausência de visitas, possíveis filhos ou netos, igualmente, fortalecia os boatos.
Jeremias não era feio. Na realidade, tinha uma aparência engraçada, pomposa, um verdadeiro Persa de pêlo curto. Os excessivos cuidados, dengos, escovações diárias, tornaram o gato um tanto rechonchudo. O pobre mal conseguia correr por muito tempo, ou saltar grandes distâncias. Se existisse uma categoria para enquadrar os gatos obesos, certamente, ele seria. Entretanto, isso não incomodava dona Francisca. Para ela, quanto mais “gordinho” ele estivesse, mais feliz aparentava.
- Que diabos! Aquela senhora já está gritando mais uma vez... – resmungou um homem levantando-se da cama com dificuldade. - E ainda são sete da manhã!
- Já falamos sobre isso. Não precisa perder tempo indo reclamar com ela. – respondeu uma mulher próxima ao homem. Ela permanecia deitada com o antebraço direito sobre os olhos, impedindo que a luz do sol, já aparente, os atingisse.
- Não compreendo como você consegue ser tão paciente. Essa mulher louca e seu gato são quase um despertador adiantado. – disse o homem ao se levantar para abrir as cortinas da varanda. Do lado das casas ímpares da Rua Arejada, ele podia enxergar dona Francisca agoniada. – Qualquer dia desses, esse gato ainda vai fazê-la enfartar!
- Bata na sua boca. Deixe-os em paz e volte para cama. – falou a mulher em tom sério, revirando o corpo de bruços, com a cabeça na direção oposta a iluminação vinda da varanda aberta.
Igor e Eleonora Rodrigues, os vizinhos frontais da dona Francisca, residiam na casa de número cento e três. Foram os primeiros a conhecê-la, completando recentemente cerca de cinco semanas. Eleonora, sempre muito simpática, quis desejar boas vindas. Sua melhor amiga, Patrícia Alencar, trabalhava como corretora de imóveis. Desse modo, era de fundamental importância que os novos moradores se sentissem bem acolhidos pela vizinhança.
16 março 2010
Adeus
- Existe uma linha delgada que separa os minutos antecedentes a parada respiratória e o apagar das luzes.
- Não...
- Não...
Alberto desligou o telefone. Entrou rapidamente no carro, como quem busca refúgio. Com os olhos fixos no horizonte, sua noção de tempo foi congelada, e por alguns minutos permaneceu estático. Deparar-se com a morte de um ente querido é engolir as memórias reviradas. Não há retorno para sinais que cessaram.
Sem ruídos, ou movimento, a rua mal-iluminada pela noite escura era um mero cenário, dentro de um contexto desastroso. Ninguém, absolutamente ninguém, poderia ajudá-lo. Evidentemente, ele precisaria de um ombro amigo por alguns dias, meses ou, talvez, anos. Mas, mesmo que um amontoado de pessoas o visitasse, constantemente, seria praticamente impossível desligá-lo de si. Quando fossem embora, as noites seriam sempre as mesmas, a mensagem de terça-feira, os resmungos de sábado.
Sem ruídos, ou movimento, a rua mal-iluminada pela noite escura era um mero cenário, dentro de um contexto desastroso. Ninguém, absolutamente ninguém, poderia ajudá-lo. Evidentemente, ele precisaria de um ombro amigo por alguns dias, meses ou, talvez, anos. Mas, mesmo que um amontoado de pessoas o visitasse, constantemente, seria praticamente impossível desligá-lo de si. Quando fossem embora, as noites seriam sempre as mesmas, a mensagem de terça-feira, os resmungos de sábado.
13 março 2010
Tolos e boçais.
Somente quando as luzes se apagam é que o espetáculo começa. As cortinas se abrem lentamente, dando a oportunidade aos espectadores aplaudirem de maneira eufórica. A luz expõe de centímetros em centímetros rostos conhecidos, sérios, sóbrios, boçais. Aquelas pessoas, gente importante, exibem-se ao público como manequins em vitrines, criando uma atmosfera que os impede de manter qualquer contato. Os desconhecidos em montes distribuem-se quase que uniformemente pela platéia. São os reais financiadores dos boçais ingratos.
O espetáculo começa pedindo a todos silêncio. A concentração é fundamental para uma boa encenação. Os boçais se posicionam como bonecos. São marionetes dos escritores, ou melhor, dos diretores. Seja de pano, de madeira, de metal ou algum outro material, ainda são bonecos. Não possuem emoção própria, apenas encarnam outras pessoas. Pessoas que só existem no papel formato a4.
Qualquer movimento alheio a cena, que está sendo descrita, é recortada do ambiente por algum homem alto trajando um terno preto como uniforme. Ninguém pode impedir os boçais de agirem como bonecos, tampouco de os espectadores como tolos. Os tolos tornam-se patrocinadores com mais facilidade. Não requisitam documentos, assinam o contrato de estupidez sem questionar.
Mas, uma coisa é certa, o espetáculo não pode parar.
O espetáculo começa pedindo a todos silêncio. A concentração é fundamental para uma boa encenação. Os boçais se posicionam como bonecos. São marionetes dos escritores, ou melhor, dos diretores. Seja de pano, de madeira, de metal ou algum outro material, ainda são bonecos. Não possuem emoção própria, apenas encarnam outras pessoas. Pessoas que só existem no papel formato a4.
Qualquer movimento alheio a cena, que está sendo descrita, é recortada do ambiente por algum homem alto trajando um terno preto como uniforme. Ninguém pode impedir os boçais de agirem como bonecos, tampouco de os espectadores como tolos. Os tolos tornam-se patrocinadores com mais facilidade. Não requisitam documentos, assinam o contrato de estupidez sem questionar.
Mas, uma coisa é certa, o espetáculo não pode parar.
08 fevereiro 2010
Como dizia o poeta...
"Não há mal pior do que a descrença
Mesmo amor que não compensa
É melhor que a solidão(...)"
(toquinho e vinícius)
Mesmo amor que não compensa
É melhor que a solidão(...)"
(toquinho e vinícius)
Joana andava toda arrebitada. Arrebitada andava em busca de um marido. E andava pelas ruas, ouvia assobios, mas não ligava. Que marido procurava Joana? A morena dos cabelos cacheados caídos sobre os ombros quentes não queria qualquer um. Qualquer um seria como escolher uma roupa aleatoriamente. Joana não escolhia suas roupas aleatoriamente. Passava horas e mais horas experimentando diversas combinações de calças e blusas. E quando escolhia, saía de casa em busca de um marido. Joana queria casar. Casar com quem? Joana não sabia, mas que queria casar... Ah! Isso ela sabia e sabia até demais.
05 fevereiro 2010
"H" de Humberto.
Humberto Tarciso Valentim dos Santos: é assim que consta na carteira de identidade, na certidão de nascimento, nos convites da reunião de pais da escola, na toalha de banho azul felpuda que mamãe mandou bordar, no cartão de vacinas e nas outras muitas identificações que já não lembro. Uma vez perguntei por que meu nome havia de ser tão grande. Na realidade recebi três nomes e um sobrenome. Sobrenome do meu pai, muito orgulhoso por tê-lo, “Santos”. Não ligo muito para a sonoridade do “Santos” e o acho um tanto comum. Conheço cerca de dez pessoas que possuem o mesmo sobrenome e não vejo empolgação por portarem-no dentro da carteira. Já os três nomes próprios que foram me dados... Nunca compreendi por que diabos eu teria três nomes. Três e não um. Ou dois “quem sabe”. Mamãe disse “meu filho, seu nome foi uma escolha difícil”. Papai continuou “Tarciso foi uma homenagem ao seu avô paterno já falecido”. Mamãe não querendo perder a vez pôs-se a falar novamente “Valentim significa saudável, forte, valoroso”. “E Humberto?” questionei. Fui completamente ignorado, talvez eu fosse invisível ou minha voz tenha falhado, pois o telefone tocou e a porta da frente falou alguma coisa que eu não compreendi. Sei que vi meus pais ocupados com seus afazeres. Mamãe devia estar conversando com alguma vendedora de produtos naturais, visto que a porta estava entreaberta, permitindo que ela colocasse apenas o rosto para fora. E se fosse amiga íntima, a porta seria aberta num instante e as duas estariam sentadas no sofá fofocando sobre as últimas notícias locais, ou sobre a novela, tanto faz... Já meu pai... Bem, ele tinha ido atender ao telefone. Calculando o tempo de demora acredito que tenha se entretido com algum livro de contabilidade. Sim, meu pai era contador. Ou advogado? Acho que os dois. Não ouso perguntar sobre a profissão dele. Seria desgastante demais passar a tarde inteira ouvindo-o falar, sem pausas, enquanto me cobriria com livros pesados ao jogá-los no meu colo. Isso tudo com um propósito, claro! Incentivar-me-ia a seguir uma carreira na mesma área. Voltando para o detalhe que ronda meu nome... Humberto. H.T.V.S. Um carimbo com a sigla das letras iniciais dele ficaria bem bonito. Evitei questionar posteriormente sobre o meu primeiro nome, aliás, eu até que simpatizava com o “H”. Pelo menos não era nem o primeiro e nem o último nas listas de chamada organizadas por ordem alfabética.
08 dezembro 2009
O mundo nos sabota.
Sábias palavras que editastes sem tinta alguma foram sendo escritas sobre meus lábios há muito tempo intocados e rapidamente tocados de amor. Quem dera eu pudesse conceber toda a experiência que sentia ao me afogar em teus braços, suados, cansados, mas ainda sim dispostos de paixão e desejo. Queria poder levar-te comigo a um deserto abrigo onde fossemos apenas eu e você, e o mundo distante lá permanecesse dentro de suas próprias amarguras e inseguranças, repleto de sentimentos indesejáveis, assim as terras infertéis não impediriam o futuro próspero de um sonho bonito. O nosso sonho. Sonho talvez mais desejado por mim do que por ti que neste mundo conhecido por ti há mais tempo o mundo o tenha sugado como sangue uma sanguessuga. Ainda corro com um semblante teu estampado no peito e que não cessa. E quiça cessará se me deixar...
04 outubro 2009
Notável
Longe de sonhos e desejos, sem crendices
Ver e responder a tudo que se lança
Necessário suporte de vida que me guia
Sabendo que ignorar
Não, não é via de circulação
Crer, não é um jogo...
Não há cartas para adivinhar
Nem copas você há de levar
Veja! desdobrar seus sentidos?
A nutrição do orgulho não contempla
Estão além do conjunto que o contém...
Portanto, acorde.
Há muito mais do que se pode enxergar.
Ver e responder a tudo que se lança
Necessário suporte de vida que me guia
Sabendo que ignorar
Não, não é via de circulação
Crer, não é um jogo...
Não há cartas para adivinhar
Nem copas você há de levar
Veja! desdobrar seus sentidos?
A nutrição do orgulho não contempla
Estão além do conjunto que o contém...
Portanto, acorde.
Há muito mais do que se pode enxergar.
Fita cassete
Paredes sólidas! Enfim, entram em estado de dança. Batimentos! Interferências de minha vida, que irônico... De momentos em momentos parecem nós ou amplitudes duplicadas. Quando ouço, não ignoro. Se vejo, almejo. Desconhecidas notas, variadas freqüências perturbam meu sono. Inusitadas situações, ninguém as espera - logicamente! E ainda sim, salta-me um sorriso e a música é feita.
15 setembro 2009
Quem responde ao temporal?
E quando a ventania chegou - sem previsões em jornais sobre possíveis temporais - desarmou tudo o que podia. Sem cor e tampouco dó destruiu sonhos e canções. Muito havia se perdido de fato.
Maria, vítima da ventania, já não podia se lembrar dos objetos sem valor que só ocupavam espaço, nem das plantas de plástico ou dos velhos retratos mofados que de vez em quando a lembrava de como era anos atrás. Quem sabe cada detalhe desse rotineiramente presente em sua vida não fora significativo o bastante para que ela sentisse falta.
Em sua face uma expressão notavelmente lânguida como de alguém que apesar do estado de choque estava bem consciente sobre o que se passava ao redor. Porém, palavra nenhuma dizia. Gesto? Também não. Quem sabe o que é perder tudo quando tudo não se resume a tudo?
Maria dividida entre pensamentos de ontem e hoje não sabia a quem culpar. O tudo ou nada perdido, a ventania, certamente não poderia custear. Responder enfurecidamente ou derramando lágrimas desesperada por uma solução não iria trazer nada do que se foi com o vento embora. E isso ela sabia muito bem.
Não, ser vítima de um acontecimento desse, não é privilégio de uma única pessoa. A rua estava cheia de olhares implorando por consolo. Mas por que Maria se João também estava angustiado com sua perda, e mais ainda, enfiado entre destroços, cacos de vidro e poeira? Por que Maria se Antônio que na aflição por um abrigo para se proteger num descuido foi atingido por um pedaço de madeira e perdeu a visão?
Entre todas as pessoas que atingidas por esse mal natural, Maria era a única que não estava explodindo em sentimentos. Há de se acreditar que quem chora ao assistir comédias românticas desabaria assim como as casas "desmontadas", mas em desespero. No entanto, imprevistas são as reações humanas.
Quem há de compreender o que as capas com contornos delicados, suaves tonalidades, impróprios brilhos vindo de purpurina e movimentos mecânicos podem dizer quando são intocáveis as palavras sem tinta?
Maria, vítima da ventania, já não podia se lembrar dos objetos sem valor que só ocupavam espaço, nem das plantas de plástico ou dos velhos retratos mofados que de vez em quando a lembrava de como era anos atrás. Quem sabe cada detalhe desse rotineiramente presente em sua vida não fora significativo o bastante para que ela sentisse falta.
Em sua face uma expressão notavelmente lânguida como de alguém que apesar do estado de choque estava bem consciente sobre o que se passava ao redor. Porém, palavra nenhuma dizia. Gesto? Também não. Quem sabe o que é perder tudo quando tudo não se resume a tudo?
Maria dividida entre pensamentos de ontem e hoje não sabia a quem culpar. O tudo ou nada perdido, a ventania, certamente não poderia custear. Responder enfurecidamente ou derramando lágrimas desesperada por uma solução não iria trazer nada do que se foi com o vento embora. E isso ela sabia muito bem.
Não, ser vítima de um acontecimento desse, não é privilégio de uma única pessoa. A rua estava cheia de olhares implorando por consolo. Mas por que Maria se João também estava angustiado com sua perda, e mais ainda, enfiado entre destroços, cacos de vidro e poeira? Por que Maria se Antônio que na aflição por um abrigo para se proteger num descuido foi atingido por um pedaço de madeira e perdeu a visão?
Entre todas as pessoas que atingidas por esse mal natural, Maria era a única que não estava explodindo em sentimentos. Há de se acreditar que quem chora ao assistir comédias românticas desabaria assim como as casas "desmontadas", mas em desespero. No entanto, imprevistas são as reações humanas.
Quem há de compreender o que as capas com contornos delicados, suaves tonalidades, impróprios brilhos vindo de purpurina e movimentos mecânicos podem dizer quando são intocáveis as palavras sem tinta?
22 agosto 2009
Entrelaçado
Amélia fofoca com Ofélia
Desdenhando da Cornélia
Que um dia famosa se fez enfim.
Conhece Joana
Que com um ar de americana
Prende os cabelos como Mariana
A vendedora de cetim.
Filha de Tomé
que estudou com seu José
Quando ainda eram do jardim.
No interior tudo é mesmo entrelaçado assim.
Desdenhando da Cornélia
Que um dia famosa se fez enfim.
Conhece Joana
Que com um ar de americana
Prende os cabelos como Mariana
A vendedora de cetim.
Filha de Tomé
que estudou com seu José
Quando ainda eram do jardim.
No interior tudo é mesmo entrelaçado assim.
Desmatiza o Laço
Cor branca gélida que adormece em meus pensamentos
Leva o rosa suave que trouxe contentamentos
Abriga-me em tons pastéis de calmaria
Por mais que eu possa me arrepender um dia
Suma com as cores
Esquecerei o que são as amargas dores
Iniba o vermelho denso do estouro
Pois nem o amarelo ouro
Poderia custear uma azul lembrança vivida
Ou uma cinza solidão sentida
Nesta negra noite que enfrento entristecida
Leva o rosa suave que trouxe contentamentos
Abriga-me em tons pastéis de calmaria
Por mais que eu possa me arrepender um dia
Suma com as cores
Esquecerei o que são as amargas dores
Iniba o vermelho denso do estouro
Pois nem o amarelo ouro
Poderia custear uma azul lembrança vivida
Ou uma cinza solidão sentida
Nesta negra noite que enfrento entristecida
21 agosto 2009
"Relatos de uma viagem inesquecível"
As pessoas costumam marcar suas viagens com horários bem definidos de modo que haja o maior conforto possível e que não interfira em suas atividades cotidianas, as chamadas “férias”. Sempre planejei muito bem cada passo meu, porém nada poderia ser mais imprevista do que essa viagem que irei relatar. Muitas pessoas teriam desistido antes de começar, eu também poderia, é claro, se soubesse o que estava por vir.
Não sei exatamente onde e como tudo começou, só sei que quando acordei estava dentro de um navio aparentemente deserto. E era um navio mesmo! Encontrei-me perdida no interior de uma cabine fechada, aquilo por um instante parecia ser tudo. Entre quatro paredes nada demais pude enxergar além de alguns belos quadros. Eram belos mesmo e de certa forma confusos, difícil de compreender, uma linguagem desconhecida que em um primeiro momento eu não soube definir.
Confesso que permanecer dentro daquela cabine me deixava confusa, mas pensar em sair dela me assustava mais ainda. Por vezes me senti uma criança indefesa precisando de alguém para segurar a minha mão e me ajudar a enfrentar o ambiente desconhecido que estaria por trás da porta. Decidi então permanecer alguns dias dentro da cabine, criando coragem para sair, e ao mesmo tempo tentando compreender o motivo da minha estadia ali.
Transformei a cabine em pouco tempo em um lugar confiável, agradável e onde eu poderia expor meus pensamentos mais profundos. Tentei ser discreta, sem fazer muito barulho, afinal até o exato momento eu não sabia se havia alguém além de mim por perto. Por mais eu precisasse também de alguém para conversar, não me sentia segura.
Conforme os dias iam passando, pude notar uma pequena modificação nos quadros, que na realidade só fui questionar após deixar o local, já que passar muito tempo sozinha pode deixar a pessoa um tanto atordoada. Enfim, não posso reclamar do tempo que passei dentro da cabine, pois foi de fundamental importância para adquirir a coragem que me seria necessária posteriormente.
Durante esses primeiros dias não pensem que eu fiquei sentada assistindo o tempo passar pelos meus olhos, de vez em quando eu tentava “brechar” pela porta. E uma coisa eu pude saber com antecedência: a temperatura do ambiente lá fora era maior, não chamaria de “quente” porque poderia soar “desagradável”, talvez de confortável ou aconchegante, acho que uma dessas duas palavras se aproximam mais da realidade.
Ainda hoje sinto o aperto no peito, o suor frio, a rápida respiração e o medo de quando eu finalmente abri a porta da cabine. Foi uma intensa mistura de sensações, devo ressaltar que foi uma experiência jamais vivida antes e que por isso deixou uma marca bastante forte na minha memória. O alívio de estar do outro lado trouxe consigo também o receio de me perder pelo caminho e não poder mais voltar.
Uma coisa era certa naquele momento: eu devia seguir em frente. E foi o que eu fiz nos dias seguintes...
Assinar:
Postagens (Atom)
Quem sou?
Tem dias que eu queria nunca ter parado de escrever. Quando eu vejo meu blog inativo for tanto tempo eu penso o quão distante eu estive de m...
-
Tem dias que eu queria nunca ter parado de escrever. Quando eu vejo meu blog inativo for tanto tempo eu penso o quão distante eu estive de m...
-
Current Mood: Productive Current Music: No line on the horizon - U2 Icon credit: LJ /untasted Everybody must have heard once that action...
-
Você gosta de vampiros ? Gosta de histórias de ficção científica? Por que não juntar as duas coisas, certo? Isso é o que a série da FX The...