18 novembro 2010

Quem ensina a pensar?

Semana passada, perguntaram-me se eu poderia ensinar física. Algumas aulas particulares visando às avaliações finais de escola. Sempre que recebo um “convite” destes fico com receios, já que na maioria das vezes eu, na função de professora, e os alunos temos objetivos que divergem. Quando penso no ensino de física visualizo a contextualização histórica, os motivos que propiciaram o desenvolvimento das teorias, as idéias que precederam e os “insights”. Existe um raciocínio valioso ao estabelecer as leis regidas pela natureza. No entanto, em quase cem porcento dos casos que estive submetida ao processo de lecionar física a pergunta que mais faziam era “Quais são as fórmulas que eu preciso decorar?”.

Sempre depreciei o ato decorativo em relação à aprendizagem. Talvez seja por este motivo que nunca me dei muito bem em ciências biológicas. Mas, o erro resiste na crença de que se pode apreender física decorando fórmulas. Aliás, o dicionário Aurélio mantém clareza (e coerência) ao expor o significado do verbo “apreender
Assimilar mentalmente; entender, compreender.
Não vejo o verbo "decorar" como sinônimo. Entretanto, continuamos a presenciar um processo que classifico como imutável por questões de magnitude superior, ou seja, os seres engajados de conhecimento, ditos professores, dificilmente ensinam o aluno a pensar.

Podem jogar os diplomas no lixo e de preferência numa cesta azul, assim recicla o papel. Não há necessidade de professores que só saibam reproduzir na lousa as fórmulas que podem ser obtidas por meio da leitura de qualquer livro didático. O interessante é que o estudante apático engole um maço de equações matemáticas, cuja origem tem um motivo, sem ao menos questionar. Seria engraçado se não fosse triste. Agora, eu pergunto: será que a escola inicia a formação de seres pensantes?! Se não, pra quê serve?

Certamente, o ato de ensinar a pensar é muito mais complicado do que parece na teoria. Complicado porque exige tempo, paciência, treino. O importante é desde cedo instigar o senso crítico por meio de questionamentos. Fomentar a não aceitação qualquer coisa imposta sem justificativa. A real compreensão de uma idéia parte do auto-convencimento. Se o aluno não consegue se convencer acaba caindo no mal do estudo decorativo. Caso não esqueça do assunto que decorou ainda assim será incapaz de resolver problemas mesmo que com leves variações dos quais decorou.

Novamente,
Quais são as fórmulas que eu preciso decorar?
Nenhuma se você tiver compreendido a essência do conteúdo.
Por fim, não serei injusta em dizer que nunca tive bons professores. Tive sim. Mas, continuo a dizer que é um evento disperso num conjunto de muitas situações dramáticas.

5 comentários:

  1. Não existe forma de ensinar, apenas há compromisso do educador. O que está em falta hoje.

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  2. É triste ver que a maioria não aprendeu a pensar!

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  3. Posso ver um futuro novo nascendo da sementinha que plantas nos teus alunos.

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  4. Realmente o "PENSAR" requer muito esforço para aqueles que se entregam ao imediato, pronto, feito, e sem falar que não somos educados, ensinados, estimulados a prática de desenvolver o pensamento, o raciocínio lógico, então o que fazer para mudar o indivíduo? Instigá-lo, sacudi-lo, bombardeá-lo, fazê-lo um novo ser pensante, contestador, que buscar sempre mais, não se contentando com a "ENXURRADA" de ideias pré-estabelecidas e jogadas em seu "CÉREBRO" e sim exercitar, aprofundar o "PORQUÊ" das mesmas!
    Parabéns pelo texto tão esclarecedor, brilhante e que mostra a sua preocupação na elaboração, contrução de indivíduos melhores.

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