05 fevereiro 2010

"H" de Humberto.

Humberto Tarciso Valentim dos Santos: é assim que consta na carteira de identidade, na certidão de nascimento, nos convites da reunião de pais da escola, na toalha de banho azul felpuda que mamãe mandou bordar, no cartão de vacinas e nas outras muitas identificações que já não lembro. Uma vez perguntei por que meu nome havia de ser tão grande. Na realidade recebi três nomes e um sobrenome. Sobrenome do meu pai, muito orgulhoso por tê-lo, “Santos”. Não ligo muito para a sonoridade do “Santos” e o acho um tanto comum. Conheço cerca de dez pessoas que possuem o mesmo sobrenome e não vejo empolgação por portarem-no dentro da carteira. Já os três nomes próprios que foram me dados... Nunca compreendi por que diabos eu teria três nomes. Três e não um. Ou dois “quem sabe”. Mamãe disse “meu filho, seu nome foi uma escolha difícil”. Papai continuou “Tarciso foi uma homenagem ao seu avô paterno já falecido”. Mamãe não querendo perder a vez pôs-se a falar novamente “Valentim significa saudável, forte, valoroso”. “E Humberto?” questionei. Fui completamente ignorado, talvez eu fosse invisível ou minha voz tenha falhado, pois o telefone tocou e a porta da frente falou alguma coisa que eu não compreendi. Sei que vi meus pais ocupados com seus afazeres. Mamãe devia estar conversando com alguma vendedora de produtos naturais, visto que a porta estava entreaberta, permitindo que ela colocasse apenas o rosto para fora. E se fosse amiga íntima, a porta seria aberta num instante e as duas estariam sentadas no sofá fofocando sobre as últimas notícias locais, ou sobre a novela, tanto faz... Já meu pai... Bem, ele tinha ido atender ao telefone. Calculando o tempo de demora acredito que tenha se entretido com algum livro de contabilidade. Sim, meu pai era contador. Ou advogado? Acho que os dois. Não ouso perguntar sobre a profissão dele. Seria desgastante demais passar a tarde inteira ouvindo-o falar, sem pausas, enquanto me cobriria com livros pesados ao jogá-los no meu colo. Isso tudo com um propósito, claro! Incentivar-me-ia a seguir uma carreira na mesma área. Voltando para o detalhe que ronda meu nome... Humberto. H.T.V.S. Um carimbo com a sigla das letras iniciais dele ficaria bem bonito. Evitei questionar posteriormente sobre o meu primeiro nome, aliás, eu até que simpatizava com o “H”. Pelo menos não era nem o primeiro e nem o último nas listas de chamada organizadas por ordem alfabética.

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