O tecido úmido ocultava as danosas palavras, brancas e inexistentes. Torcendo-se o lençol azul céu claro, gotas escorriam pelos seus pulsos fragilizados. O dilúvio havia passado. Deixou para ela apenas restos - vestígios de destruição. Uma linha delgada se rompia a cada murmuro sem som. As paredes encharcadas cambaleavam, anunciando que em breve despencariam sem piedade. Ela precisava escapar do desabamento. Demorou a se pronunciar, pois olhos estavam presos, fixos na ruína. Feriu-se ao tropeçar nos cacos de vidro da janela fragmentada. Pele rasgada. Seu sangue escorreu, misturou-se com a água suja dando-a um aspecto encardido. Experimentou, então, o ardor de um corte profundo que custou a cicatrizar. Sua pele pálida se confundiu com o vazio do ambiente, mas suas mãos, molhadas de cor vermelha, destacavam-se entre os muitos que passavam por ela sem rumo. Encaravam-na sem cortejo. Pareciam querer-lhe golpear os demais órgãos. Franziu a testa involuntariamente e pode sentir o arder da vista. Suas pálpebras tornaram-se escorregadias, desprendendo ilusões. Torceu pelo término daquele dia. Quis mentir para sua razão, abaixou a cabeça, pôs as mãos no rosto e pendeu com todo o resto.
21 fevereiro 2010
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